sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ANTÔNIO NÔVOA

Educação 2021: Para uma História do Futuro

PRIMEIRO TEMPO HISTÓRICO

1870 – CONSOLIDAÇÃO E DIFUSÃO DO MODELO ESCOLAR
Em 1870 começou-se a organizar o modelo de educação que conhecemos nos dias de hoje. A ação realizada por estadistas e educadores, médicos e professores, arquitetos e pedagogos, entre tantos outros, contribuiu para formatar um modelo que deve assegurar a consolidação da identidade nacional e a preparação para a nova sociedade industrial em espaços que preservem a saúde das crianças e lhes permitam progredir de forma sistemática nas aprendizagens escolares.
A escola de massa é um dos grandes acontecimentos que transforma as sociedades ao longo do século XX definindo assim novas formas de organização da vida familiar e social.

Do Passado ao Futuro _ É possível identificar três cenários de evolução dos sistemas de ensino:
• Primeiro aponta para o regresso, pois propõe que cada família ou comunidade deve ter a sua própria escola, reservada aos seus e protegida dos outros evidenciando o ensino doméstico em casa.
• Segundo baseia-se na educação como bem privado onde o Estado deve adster-se se limitando a criar e divulgar indicadores de qualidade das escolas permitindo as famílias a fazer uma escolha informada da melhor escola para seus filhos e a financiar os mais desfavorecidos através do vale educação afim de assegurar equidade no acesso à educação.
• Terceiro alicerça-se na importância das novas tecnologias onde a educação pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora, tendo como referencia professores reais ou virtuais. Para alguns autores a escola tal como conhecemos deixaria de existir e em seu lugar haverá centros de aprendizagens que funcionarão sete dias da semana e 24 horas por dia com professores a distância e salas dentro do computador.

SEGUNDO TEMPO HISTÓRICO

1920 – EDUCAÇÕES NOVA E PEDAGOGIA MODERNA
Entre 1870 e 1920 ouve um avanço no desenvolvimento de idéias pedagógicas respeito do estudo da criança e na produção de uma ciência da educação. As teses da Educação nova se definem em quatro princípios: Educação Integral, autonomia do educando, métodos ativos e diferenciação pedagógica. A pedagogia moderna elabora e difunde socialmente modos de conceber a educação que se tornarão dominantes na sociedade do século XX.
O conceito de educação integral é aquele que melhor simboliza este movimento, pois a escola deveria encarregar-se da formação da criança em todas as dimensões da sua vida. A escola desviou-se muitas vezes das tarefas do ensino e da aprendizagem para se dedicar às missões sociais.

Do Passado ao Futuro _ A crítica principal que hoje se dirige à escola diz respeito à sua incapacidade para promover as aprendizagens, respondendo assim aos desafios da sociedade do conhecimento. Por isso vamos analisar dois cenários que são portadores de uma lógica de escolarização.
• Primeiro a escola no centro da coletividade, orientando-se primordialmente para missões sociais, de apoio às crianças e às suas famílias, sobretudo no caso dos meios menos favorecidos ocupando-se de um conjunto de outras competências sociais e culturais, constituindo um lugar de referência para as comunidades locais compensando assim a incapacidade da família.
• Segundo a escola como organização centrada na aprendizagem chama a atenção para a importância do saber e da aprendizagem nas sociedades do século XXI recusando a idéia de que a escola pode tudo, identificando os aspectos centrais, específicos e prioritários do trabalho escolar deixando a sociedade educar os seus membros.

TERCEIRO TEMPO HISTÓRICO

1970 – DESESCOLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE
Cem anos depois, o modelo escolar é seriamente posto em debate por uma série de movimentos e correntes que combate a “desescolarização da sociedade”. A Educação Permanente é uma nova perspectiva, que leva os educadores a redefinir toda e qualquer educação onde por um lado a possibilidade de uma “educação desescolarizada”, isto é, de uma educação liberta das estruturas institucional e baseada em redes informais de aprendizagem ou “teias de oportunidades”; por outro lado, a defesa de uma educação que não se limite, primordialmente, aos aspectos da formação profissional e que abranja as questões da sociedade, da cultura e do “aprender a ser”.

Do Passado ao Futuro _ Podemos imaginar três cenários se inserem na procura de alternativas para o modelo escolar e para a forma como ele se desenvolveu desde finais do século XIX.
• Primeiro _ A idéia das redes de aprendizagem surge com naturalidade, “o passado” revela-se no mito de um tempo em que não havia escolas, no qual as pessoas se educavam ao ritmo da vida das sociedades, aprendendo de modo informal. A “o futuro” alimenta-se sempre de uma utopia tecnológica, de um dispositivo que permita, enfim, colocar a aprendizagem e o saber ao alcance de todos.
• Segundo _ está bem presente, hoje, nas políticas educativa. O conceito aprendizagem ao longo da vida, ou seja, a sua operacionalização tem-se feito, fundamentalmente, no quadro das políticas do emprego e da requalificação profissional. Educação Permanente começou por ser um direito depois se transformou numa necessidade e agora se impõe como uma obrigação para conseguir um emprego digno.
• Terceiro _ A escola deve libertar-se de uma visão regeneradora ou reparadora da sociedade, assumindo que é apenas uma entre as muitas instituições da sociedade que promovem a educação. Nesse sentido, pensar de outro modo o espaço público da educação.


UM TEMPO FUTURO
2021 – AINDA SEM NOME

EDUCAÇÃO PUBLICA ESCOLAS DIFERENTES.
Nos tempos atuais a educação deve se definida como um bem público. A defesa de uma educação pública depende, hoje, de uma mudança dos sistemas de ensino de modo a possibilitar o desenvolvimento de escolas diferentes com liberdade de organização, de construção de projetos educativos e definição de currículos diferenciados, tendo como base em acordos com sociedades científicas ou universidades. As famílias e os alunos devem poder escolher a sua escola e, simultaneamente, participar na definição do seu projeto educativo.

ESCOLA CENTRADA NA APRENDIZAGEM
Para assegurar que todas as crianças adquirem uma base comum de conhecimentos é preciso que as crianças e os jovens, sobretudo aqueles que vêm de meios desfavorecidos, reencontrem um sentido para a escola, pois só assim a escola deixara de cumprir algumas missões sociais e assistenciais.
Promover a aprendizagem é compreender a importância da relação ao saber, é instaurar formas novas de pensar e de trabalhar na escola, é construir um conhecimento que se inscreve numa trajetória pessoal. Também é necessário que as escolas se libertem das estruturas físicas em que têm vivido desde o final do século XIX. E mobilizem-se para a criação de ambientes educativos inovadores.


ESPAÇO PÙBLICO DE EDUCAÇÃO: UM NOVO CONTRATO EDUCATIVO
Essa proposta rompe com a tradição de ir atribuindo à escola todas as missões e a responsabilidade é partilhada por um conjunto de atores e de instâncias sociais não ficando apenas nas mãos dos educadores profissionais, mas evoluir para uma maior responsabilidade da sociedade. As sociedades têm se dotado de instituições de cultura, de ciência, de desporto ou de arte como nunca existiram no passado reforçando a necessidade de reconstruir solidariedades, espaços de convívio, de vida social e cultural, que tenham como um dos pontos centrais a educação das crianças e dos jovens. Essas idéias só poderão ser úteis se forem devidamente contextualizadas e adaptadas à realidade de cada região e de cada país.

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